quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Sonho...

Seu maior desejo sempre fora, voltar!...
Guardava a memória do tempo em que lá tinha vivido, guardava no coração todos os afectos que lá tinha deixado. Uma vivência feita de simplicidade, na simplicidade do lugar, onde os códigos  existentes não se encontravam escritos em nenhum manual ou tratado, onde a palavra dada era para ser honrada e cumprida, onde os mais novos veneravam com enorme respeito e amor os mais velhos, por neles residir todo o conhecimento recebido dos antepassados, pelas experiências das suas próprias vidas. Tudo era passado de pais para filhos.
Por lá nessas paragens também vivia aquele que sempre fora uma parte de si, alguém que amava a liberdade, (aquele que já em criança fixava o horizonte e sonhava com todas as viajem possíveis porque para ele o universo não tinha limites). Ele podia dar-se ao privilégio de fazer tudo quanto desejasse, nascera homem, ainda que tivesse sido educado segundo as tradições, era dotado de uma sensibilidade fora do comum, nascera também poeta, e esse era um segredo que ela guardava a sete chaves, que nunca revelaria a ninguém.
Ela, esperava sempre com grande ansiedade, a chegada das longas viajem que ele fazia, consumida pela saudade, mas sabia que aquando do seu regresso ouviria todas as aventuras por ele vividas. Ele procurava-a  sempre enquanto a aldeia dormia, para partilhar  do que tinha bebido fora daquele lugar tão amado pelos dois.
O venerável ancião de barba branca, bem aparada, tez morena, olhos negros, dono de uma voz cheia de ternura, disse-lhe de novo:"- Não tenhas medo, vê o resto, não acordes agora..."
Pela sua mão deixou-se ir e sonhou sem qualquer receio, pela primeira vez em muito tempo sentiu-se confiante na certeza de que nada a poderia demover da convicção plena que por mais difícil que tivesse sido, aquele seria para sempre o seu lugar da alma. Os outros só conheceram os factos, ela conheceu a essência, porque  junto dela, ele despia-se da autoridade imposta, voltando à criança que sonhava em romper fronteiras e voar para lá do infinito, o lado desconhecido na tarefa tão difícil que lhe coube.
Mas depois, depois tudo se desmoronou... esse é outro sonho, que não cabe neste, esse terá outro nome... 

2 comentários:

O Árabe disse...

Ainda que desmoronem, amiga... quão felizes nos fazem os sonhos! :) Belo texto, boa semana.

O Árabe disse...

Boa semana, Mada! Aguardo o próximo post. :)