quarta-feira, 1 de abril de 2015

Manhã de Inverno

Nuvens cinzentas prenhes de prazer da água, cobriam completamente o sol anunciando que o inverno finalmente havia chegado, as árvores encontravam -se despidas, embrulhei na saudade a beleza inigualável do amanhecer. Começou a chover de mansinho, como se o universo sentisse que minha alma chorava em silêncio... chegou até mim o odore a terra molhada, fechei os olhos,viajei até à infância, os aramos da minha infância, tendo a certeza que existem momentos e pessoas insubstituíveis. 
Hoje especialmente hoje que a saudade me vestiu corpo e alma, sinto-os todos juntinho de mim... o cheiro a lenha a arder no forno que era aceso pelo meu avô, o cheiro do pão acabado de cozer, o cheiro a batatas doces assadas, os bolos deliciosos que minha avó fazia e distribuiua em igual quantidade por todos os netos, as broas de milho com erva doce que perfumavam a caixa dos bolos de forma única... 
Chega até mim o cheiro a roupa lavada com sabão azul e  branco e omo, vejo pela memória as mulheres a lavar a roupa na ribeira, cada uma tinha a sua pedra de lavar e o seu lugar especifico.Eu amava ir para a ribeira ver tudo aquilo a acontecer, as conversas delas entrelaçadas com gargalhadas e batidas de roupa nas pedras, a musica da água a correr límpida que se misturava com o cantar delas.Hoje à distância dos anos tenho a certeza que as segundas-feiras de lavar roupa, acabavam por ser encontros sociais.
Existem dias que parece que fico presa num tempo de um tempo tão especial, tem dias que gostaria de viajar no tempo só para poder sentir de novo todo o amor da família. Hoje abraço com profunda saudade o colinho da minha avó, a gargalhada da minha tia, o olhar cheio de amor do meu avô. Sei que nosso reencontro está escrito .Maktub!      
ML

terça-feira, 18 de junho de 2013

Quietude



perco-me em olhares vagos...
saudade esculpida na alma!
morro em cada por do sol
renasço em cada estrela
vivo em cada aurora
sinto-me no canto nómada dos pardais
com as lágrimas gotas de orvalho da manhã
cheiros trazidos na brisa fria
falam da flor de laranjeira embrulhada no jasmim
e... em mim chora-me sol luz, chora-me luz lua!
dialogo desenhado ao limite do (in)explicável,
toca-me em silêncio sons trazidos no embalo da quietude!
MADALENA LUZ





domingo, 28 de abril de 2013

Entre Espaços



incessantemente como quem faz poesia
na fragilidade de recriar a vida
inesgotável como o vento do deserto
descobrindo fontes ocultas
nascentes cristalinas
onde a água sussurra docemente
"o medo só trás morte à alma!"
irreverente escorre por montanhas e vales
sob translucida claridade do sol
sob opaco escuro da noite
(des)amputada do ridículo das emoções
onde perfeito é o sonho
onde cada momento é um estar
entre espaços abertos
seguindo em todas as direções  

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Incógnita Dimensão...



incógnita dimensão
realidade na sombra do ser
desenho da palavra... improvisos... 
absurdo de não ser segmento de recta, no circulo assimétrico
moldado na originalidade do (ir)real do que (não) é

emergem tatuagens na escrita

perfumando segredos mágicos no espelho dos olhos
arrancados às garras do mundo

- Em dias assim mudava o andar seguro, tornando-o selvagem!


terça-feira, 27 de novembro de 2012

Delírio ou certeza?



na beira do abismo de si mesma,
o frio pendurou-se nas nuvens
- tinha a ponta do nariz fria!
a manhã fez-se cinzenta, inundada de ócio e soturna expectativa
derramando uma lenta e profunda tristeza
- tinha a ponta do nariz fria!
o mundo, esse continuava a fazer-se ouvir rouco dentro da cabeça...
na irregularidade do momento, obliquas cordas prateadas cairam sobre a terra salpicando-a como polvora
- tinha  a ponta do nariz fria!
o campo cobriu-se de atrevido verde, ficou repleto de sussurros e vidas diminutas
a chuva era o sangue da terra
- tinha a ponta do nariz fria!
disse para si mesma:
 " eu sou um feudo vacilante dentro da minha própria epopeia
- tenho a ponta do nariz fria!"

domingo, 14 de outubro de 2012

enquanto quase...


no fio do tempo...
incapaz, sento-me ao colo da saudade
fragmento (des)compassado no arrepio da luz
a boca é o som do vento semelhante a lagos acesos
na irregularidade do deserto...
gota de silêncio na dobra dos dedos cega as palavras
moldando as lágrimas das estrelas
abrindo flores no segredo da terra seca
para na passagem breve das horas
minha alma beijar,
no quase infinito movimento da vida.
verdade enquanto quase
abraço o invisível no (des)absurdo do movimento adormecido
que ilumina pedras gastas 
pela chuva de palavras vazias


domingo, 2 de setembro de 2012

Fragilidades....


Cresce uma onda no oceano intimo do meu ser...
Cresce uma onda feita espuma branca orvalhando a passagem das horas...fragmentando o tempo...dividindo a contagem ao segundo da existência...
Quisera eu poder alcançar a gota subtil que se prende no invisível das palavras soltas ao vento, entregues no infinito... agarro a onda que se desfaz na chegada à praia, ficando qual naufrago da caravela dos sonhos que se afundou no mar da saudade...
O mar de saudade onde o silêncio cai rasgado pela quase verdade... 
das quase palavras... numa quase ausência 
quase recortada no doce embalo da mão que rasga a penumbra num movimento de quase vida... onde o que  não digo é sonho de veludo macio das mãos que acariciam as mãos num movimento onde o quase dá lugar à certeza de que a fragilidade segue suavemente a força do Amor