segunda-feira, 21 de maio de 2012

Delírio em jeito de reflexão acerca da Eutanásia




Desde muito cedo me questionei de onde viemos, porque estamos aqui e para onde vamos.
Será que faz algum sentido todo um percurso de vida, com tropeços, com momentos felizes, errando uma vezes, acertando outras e depois assim, sem que ninguém consiga prever tudo termina? Morremos!!!
E a morte será plena e total? Deixo de existir?
Será a existência do ser humano mais insignificante do que qualquer outra forma de vida no universo, que depois da morte é como se nunca tivesse existido?
Então para que serve tudo isto? Para que serve considerarmo-nos os Seres mais inteligentes de toda a cadeia da evolução, de sermos capazes de pensar e fazer coisas que mais nenhum outro consegue, se tudo é tão efémero, e depois tudo se esquece com tanta facilidade como se não tivéssemos existido?
Procurei de muitas formas, durante muito tempo que estas perguntas pudessem ser respondidas por mim e para mim. Hoje, eu tenho as Minhas Certezas e conclui que, eu sou um Ser: Biológico, Psicológico, Social, Histórico e Espiritual.
Foi quando me dei conta que eu também tenho um eu Espiritual, que tudo ficou mais lógico para mim e passei a considerar a vida como uma pedra preciosa, que tem que ser preservada acima de qualquer outra coisa.


No ano de 2006, o meu pai teve uma falência cardíaca, que o levou a ficar em coma cerca de três dias. Foram os três dias mais angustiantes de toda a minha vida. Recordo quando recebi o telefonema de um amigo da família a me informar o que tinha acontecido, senti um frio tão profundo e tão intenso que demorou horas a passar. Depois foi dar a notícia ao meu irmão e rumamos ao hospital.
Uma vez no hospital era urgente saber notícias, (não sabermos nada é terrível e ao mesmo tempo reconfortante, na medida em que o pior é sempre pior do que se imagina), e lá fui eu com uma segurança que estava muito longe de sentir, procurei com o olhar por toda a sala das urgências e não o consegui reconhecer logo, talvez porque uma parte de mim estava em negação achando que quando chegasse ao hospital não seria o meu pai e sim um engano, mas não era engano, lá esta ele deitado, desacordado e entubado. Perguntei a uma enfermeira se ele me conseguia ouvir, ao que ela respondeu:
    Fale com o seu pai sim, porque existe muita gente que diz que os doentes em coma conseguem ouvir e a voz dos familiares pode ajudar e muito na recuperação!”
Quando ouvi aquilo percebi que hoje em dia as pessoas têm a mente muito mais aberta para entenderem que existe uma parte física em nós e uma parte espiritual que também necessita de ser tratada.
Foram três dias a conversar com o meu pai, fazendo a ponte para a realidade do dia a dia, por exemplo, que horas eram, que dia era, como estava o tempo, quem tinha perguntado por ele,quem o queria ver, enfim tudo o que se conversa com alguém que está doente. Ao fim de três intermináveis dias, o meu pai acordou, o primeiro sinal de regresso, foi-me dado por ele quando lhe disse que a minha mãe iria vê-lo no dia seguinte, ele sorriu, fez que sim com a cabeça, foi uma pequena grande vitória, começamos nesse dia uma lenta caminhada de volta à vida normal.
Superado este susto, passados mais ou menos três para quatro meses, adoece a minha mãe com um cancro no estômago, teve que fazer uma gastectomia total, e iniciar um ciclo de quimioterapia.
É por esta altura do início da quimioterapia, que eu tomo contacto efectivo com aquilo a que a maioria de nós sabe que existe, mas que ao mesmo tempo é-nos tão distante, porque nos falta o contacto real com a situação, o viver um dia atrás do outro, sem se saber como será o amanhã, mas tendo uma vontade férrea, de que amanhã seja um dia melhor porque esta doença é feita de pequeninas vitórias.
Aprendemos, logo na primeira consulta a ser positivos, a acreditar que se consegue vencer a doença, a não desanimarmos e o mais importante, a construirmos uma equipa: a família, o doente e a equipa médica.
Nos seis meses que se seguiram tive contacto com muitas situações, todas elas diferentes, porque não existe um doente com cancro igual ao outro, muito embora possa estar localizado no mesmo sítio. Existem também muitas formas de encarar a doença, mas eu tenho a certeza que a mais fácil e a melhor é olhá-la de frente e chamá-la pelo nome que tem: CANCRO.
Hoje a minha mãe encontra-se bem, e depois de tudo isto ter passado, renovei as minhas certezas, de que a Vida é um bem precioso, e ninguém tem o direito de tirá-la seja de que forma for.
Fala-se tanto na eutanásia, ou na morte assistida que em minha opinião esta não é senão um suicídio / assassínio.
Como é que se pode achar, que se sabe quanto tempo tem de vida determinada pessoa, se todos os dias temos relatos nos Hospitais, de doentes, que nenhum médico achava que fossem sobreviver e assim de repente dá-se o “milagre”?
Os cuidados paliativos e continuados, a consulta da dor e do sofrimento humano são a resposta mais razoável para dar alguma dignidade a todos os doentes que se encontram naquela situação limite.
Depois dou por mim a pensar, e se a eutanásia for praticada sem o consentimento do doente, só porque o médico acha que não há alternativa, e se o diagnóstico estiver errado? Isto levaria a mortes sem sentido.
Poderia também haver situações em que por razões de heranças os próprios familiares incentivassem a prática de eutanásia.
Não consigo deixar de pensar que acima de tudo o Ser Humano é extremamente egoísta e mau e se tiver o poder de decidir sobre a vida e a morte de alguém, mais tarde ou mais cedo vai acabar por usar erradamente esse poder, porque o Homem tem tendência para querer imitar Deus e muitas vezes não resiste “a brincar à divindade”.


4 comentários:

Mena G disse...

Eutanásia ou "sucidio assistido" é um direito MEU, enquanto ser humano em plenas faculdades mentais. Ninguém decide por mim enquanto eu possa raciocinar. Não reconheço NENHUM Deus, em nenhuma religião.Respeito todas! E se eu quiser (por ter que ser) morrer assistida, acho que é meu direito. Não há divindades! E por respeitar, que nenhuma religião me queira impôr os seus valores.

O Árabe disse...

Penso como você, amiga. Também acho que somos seres espirituais e, por isto, de nada adianta querermos terminar com a vida; até porque ela não termina. Boa semana!

Antônio Lídio Gomes disse...

Concordo com Mena G
O assunto é polêmico, mas cabe a cada um e à sua conciência.
Um abraço, seja bem vinda.

francisco disse...

Em termos genéricos sou a favor da eutanásia e considero que o suicídio é um direito inalienável da condição humana. Direito último e maior de todo o ser verdadeiramente livre. No entanto, e embora reconhecendo hipocrisia no prolongamento da vida quando ela está infalivelmente condenada, mesmo assim, nunca aceitarei que se legisle ou crie normas para a eutanásia, com base na poupança de custos clínicos p. ex.. Tal como este exemplo há ainda outros aspectos pertinentes que me levariam a não optar/permitir/defender a eutanásia sobre uma determinada pessoa. Mas, considerandos à parte, reclamo o direito ao “suicídio assistido” como uma liberdade do indivíduo.
Em relação ao relato da Madalena, nomeadamente no que concerne ao estado clínico do seu pai, não vejo onde está a eventual contradição entre a opção que ela tomou e o perfilhar da posição que defendo. Cada caso é um caso e tem de ser avaliado como tal.